De acordo com o especialista em tecnologia espacial T.S. Kelso, a colisão danificou o satélite retrorefletor russo BLITS (Ball Lens In The Space), uma esfera refletiva de 8 kg lançada em setembro de 2009 e que estava sendo usada em experimentos geofísicos e em medições através de pulsos de raios laser.
Segundo Kelso, o satélite foi atingido por um dos fragmentos do satélite Fengyun 1C, criados depois que a China o destruiu propositalmente em 2007 durante um teste de seu sistema antimíssil. Depois da destruição, cerca de 3 mil pedaços do satélite permaneceram em órbita e até hoje continuam caindo em direção à Terra, o que obriga as agências espaciais manterem constante vigilância para evitar choques dos satélites de órbita baixa com os restos de lixo espacial.
Além da mudança do plano orbital, Yurasov e Nazarenko também perceberam que a atitude (posição angular do satélite no espaço) e a velocidade de spin (giro do satélite sobre seu eixo) também estavam alteradas.
No dia 28 de fevereiro, o International Laser Ranging Service, ILRS, confirmou que o nano satélite havia se chocado com um fragmento de lixo espacial e que as medições realizadas pelo BLITS estavam seriamente comprometidas. O ILRS é um órgão internacional suportado pelo Goddard Space Flight Center, da Nasa, que coordena as medições feitas com pulsos de raios laser em todo o mundo.
"A colisão alterou abruptamente os parâmetros orbitais do BLITS", informou em comunicado o ILRS. Segundo o órgão, o spin passou de 5.6 segundos antes da colisão para 2.1 segundos.
Segundo os cientistas russos, a mudança orbital ocorreu precisamente em 22 de janeiro às 07h57 UTC. De posse desse dado, Kelso simulou a passagem de milhares de fragmentos que pudessem cruzar a órbita de BLITS no instante informado. O trabalho descobriu que apenas um objeto - um fragmento do Fengyun 1C - cruzou o caminho do BLITS naquele dia e com menos de 10 segundos de diferença do horário informado.
"Embora a distância prevista parece impedir uma colisão, o fato de que a aproximação ocorreu dentro de 10 segundos após a passagem estimada faz parecer muito provável que este pedaço do Fengyun 1C realmente colidiu com o BLITS", disse Kelso.
Pelo menos duas vezes por ano a Estação Espacial Internacional precisa fazer manobras para evitar a colisão com o lixo espacial e à medida que os detritos das colisões ou destruições propositais caem para as orbitas mais baixas, onde estão a ISS e grande parte dos satélites científicos, aumentam também os riscos de colisão.