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Buraco do Inferno: China inicia sua viagem ao centro da Terra

Segunda-feira, 5 jun 2023 - 09h24
Por Rogério Leite
Desde o fantástico conto de Julio Verne, muito se pensou para colocar em prática algum plano ambicioso que permitisse levar exploradores ao centro da Terra. No entanto, as dificuldades para a perfuração de um buraco de mais de seis mil km são muitas e consideradas instransponíveis. Agora, cientistas chineses resolveram entrar na briga e deram início à perfuração que pretende levar pessoas a profundidades inimagináveis.

Vista panorâmica do início das perfurações do Buraco do Inferno, em Xinjiang, na China.

O poço chinês se localiza na Bacia de Tarim, em Xinjiang e nesta primeira etapa deve chegar a 11,1 km de profundidade. Segundo nota publicada, nesta fase deverão ser obtidas informações científicas sobre formações geológicas, além de ampliação do conhecimento sobre a propagação de terremotos e erupções vulcânicas. Pesquisas sobre a identificação de minerais e tentativas de correlação geológica às mudanças climáticas também deverão ser realizadas.

Poço mais Profundo da Terra


Até agora, o poço mais profundo que se tem registro é a escavação de Kola, na Rússia, que chegou a 12,2 km de profundidade em 1989. Segundo o governo russo, o objetivo dessa perfuração era estudar a composição da crosta e manto da Terra, além da avaliação da resistência das rochas e da alta temperatura encontrada nas profundezas.


Desafio da Profundidade


Os desafios de se avançar em grandes profundidades rumo ao centro da Terra esbarram, entre outros, no aumento da temperatura encontrada na medida em que a profundidade aumenta. Essa elevação da temperatura é chamada "gradiente geotérmico", estimado em 3°C a cada 100 metros de profundidade, ou cerca de 25°C/km de profundidade.

O valor do gradiente geotérmico foi observado pela primeira vez em 1867, durante a escavação do primeiro poço do mundo a ultrapassar os 1000 metros de profundidade, nas minas de gesso de Sperenberg, na Alemanha. Posteriormente, outras escavações demonstraram que esse índice é praticamente constante em qualquer local do planeta.

Além da temperatura, o ambiente hostil da perfuração inclui a aspereza das rochas, riscos e contaminação ambiental durante o processo de perfuração e desenvolvimento de equipamentos e brocas super resistentes à dureza e temperatura.

Considerando o índice geotérmico de 25°C/km, fica fácil entender que nesta primeira etapa os pesquisadores estarão trabalhando com perfurações em ambientes superiores a 250°C, o que rendeu à obra o apelido de Buraco do Inferno.


Gráfico demonstra a elevação da temperatura na medida em que aumenta a profundidade em direção ao centro da Terra.


Temperatura no Centro da Terra


Naturalmente, chegar ao centro da Terra em poucos anos é uma missão impossível, pois na medida em que a perfuração avançar os efeitos da alta temperatura se tornarem cada vez mais intransponíveis. Para se ter uma ideia, ao atingir o topo do manto superior, a 660 km de profundidade, os equipamentos já estarão sendo submetidos a tórridos 1900 °C, com apenas 10% do caminho percorrido.

Com o passar do tempo e as escavações forem progredindo, talvez um dia possamos chegar de fato ao Centro da Terra. Quando isso acontecer estaremos a 6370 km da superfície, diante de uma fornalha de mais de sete mil graus de temperatura. Muito sorvete e água gelada devem fazer bem nesse lugar!

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