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E você, ainda vê estrelas?

Quinta-feira, 16 ago 2018 - 08h07
Por Rogério Leite
Há muito que a poluição luminosa se tornou um sério inimigo para a observação do céu. Com o tempo o problema se agravou e segundo os especialistas, as próximas gerações urbanas não verão mais as estrelas e constelações, apenas o brilho do Sol e da Lua.

A observação da Via Lactea ou de parte dela não é mais possível em centros urbanos. O "caminho de leite" é totalmente obstruido pela poluição luminosa e sua contemplação e estudo estão agora restritos a um público bastante seleto, morador distante das pequenas ou grandes cidades. Crédito da foto: Joe Daglen, Owyhee Reservoir, Oregon, EUA

O agravamento da poluição luminosa veio com o avanço implacável da iluminação pública, um sinal inequívoco de progresso, segurança e bem-estar, mas que trouxe junto uma forma de degradação ambiental extremamente nefasta, tanto para a natureza como para a cultura contemporânea já que grande parte da humanidade não pode mais contemplar totalmente o Universo em que está inserida.

A poluição luminosa nos grandes centros urbanos é tão grande que apenas as estrelas mais brilhantes podem ser observadas, ao contrário das localidades mais escuras de onde a via láctea e a luz zodiacal ainda podem ser vistas.


Luminárias - os vilões


De acordo com estudiosos no assunto, o maior responsável pela degradação do céu escuro é o desenho incorreto das luminárias de rua que espalha um fluxo de 60% da luz no sentido horizontal e para cima, que em nada contribui para a iluminação noturna, já que a única luz realmente necessária é aquela dirigida para o solo.

Mapa mostra a distribuição da poluição luminosa sobre o Brasil. A escala indica quantas vezes o céu é mais claro que o natural. Repare que sobre os grandes centros, como São Paulo, por exemplo, a poluição luminosa pode deixar o céu 41 vezes mais claro que o negro natural. Localidades aceitáveis só são encontradas em partes da região amazônica e Centro Oeste.

Outdoors e fachadas de lojas, além dos holofotes que iluminam prédios e monumentos também contribuem fortemente para a degradação ambiental, além das projeções ao ar livre e da forte iluminação dos estádios.

Todas essas fontes criam uma grande massa luminosa que reflete na atmosfera e a transforma em uma espécie de barreira que ofusca a luz vinda do espaço.

Nos Grandes Centros


Quanto mais populosa e desenvolvida for a cidade, maior será essa massa luminosa, facilmente perceptível à distância, quando nos afastamos em direção ao interior. Em algumas localidades, a interferência luminosa só começa a ser tolerada a mais de 200 ou 300 km de distância.

Culturalmente, o resultado da poluição luminosa é que ela nos torna cegos para o conhecimento e compreensão do Universo ou do Sistema Solar, já que somente os objetos muito brilhantes podem ser vistos.


Este gráfico compara como o céu é visto sob diversas condições de poluição luminosa. Repare a diferença entre o céu das regiões metropolitanas urbanas e das zonas rurais.


Nos grande centros, as constelações mais simples e fantásticas, como o Escorpião, Orion ou Leão, por exemplo, se apresentam completamente desfalcadas e em nada se parecem com aquelas mostradas nos atlas celestes. Observar cometas e chuvas de meteoros é uma tarefa impossível, assim como ver a Via Láctea e a Luz Zodiacal.

Atualmente, as zonas urbanas dos países ricos ou em desenvolvimento são as áreas que apresentam maior índice de poluição luminosa, que se amplia à medida que as cidades interioranas recebem investimentos e se tornam mais iluminadas.


Políticas Públicas


Ao que tudo indica, a deterioração da qualidade do céu noturno só será freada a partir de uma mudança cultural na mentalidade dos administradores, que deverão repensar na forma como é feita a iluminação pública das ruas e parques e também na criação de leis que norteiem o uso de refletores na iluminação de prédios e fachadas.

Sem a contenção implacável da poluição luminosa, em poucos anos teremos um céu onde praticamente não se poderá mais ver estrelas. Elas passarão a ser entes desconhecidos, encontrados apenas em fotos ou livros de ciência.

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