Colocado dessa forma, parece um trabalho fácil de ser executado, mas os obstáculos são tantos que poucos conseguem fazê-lo. Dizemos isso por experiência própria, como veremos mais tarde.
No último domingo, 8 de abril, dois estudantes da Universidade da Suécia, Jörgen Hedin e Michael Erneland, auxiliado por seus colegas, realizaram o difícil feito, lançando do campus da universidade a sua tão preciosa carga, batizada de MMSP ou Multi Motif Stratospheric Photography ou Fotografia Estratosférica de Multi Motivos. A carga foi ao espaço a bordo do Bexus-5, um balão de hélio custeado pela universidade, com capacidade de erguer até 100 quilos a 35 mil metros.
Para se ter uma idéia da dificuldade em executar a tarefa, o projeto teve a participação da Comissão Espacial da Suécia, da Swedish Space Corporation, uma espécie de INPE de lá, do Esrange Space Center, de onde partiu o balão e do Departamento de Ciências Espaciais da Universidade de Suécia. Tudo isso para colocar no espaço uma câmera fotográfica e mais alguns experimentos de quatro estudantes.
Outro grande desafio seria fazer a câmera retornar em perfeitas condições de funcionamento e continuar assim quando não estivesse em vôo. A câmera usada foi uma Sansung Digimax Pro, de 8 megapixel com 4 gigabyte de memória, cedida pela universidade, mas que deveria retornar aos seus proprietários.
O container da câmera foi montado sobre um disco rotativo controlado por dois pequenos motores de passo que permitem um giro de 180 graus da estrutura, capaz de alterar o motivo observado. A câmera foi modificada para permitir o seu controle através micro controlador montado pelos alunos.
Diversos outros componentes foram desenvolvidos para a missão, tais como modificação nos equipamentos de rádio e transmissão de dados dos receptores de GPS, estes disponibilizados pelos responsáveis pelo balão, uma estrutura de 40 metros de diâmetro e inflado com 10 mil metros cúbicos de hélio.
Quatro horas e meia depois de iniciado o vôo, o centro de controle acionou o mecanismo de liberação, fazendo a carga descer de pára-quedas sobre a região montanhosa na fronteira entre a Suécia e a Finlândia. Como provam as fotografias tiradas, a câmera foi recuperada intacta pelos alunos da universidade.
O centro de controle da missão, montado nos fundos da sua casa em São Paulo, possuía duas antenas e dois receptores que deveriam desempenhar o papel de radiolocalizadores. Dois colegas, em pontos distantes e diferentes, fizeram parte da triangulação e rastreamento.
O gigante e estranho balão foi lançado com sucesso e lentamente começou a ganhar altitude. Conforme subia e o ar se resfriava, fazia variar a freqüência do transmissor, de modo que era possível determinar a altitude do artefato. Nos 30 minutos iniciais tudo parecia bem e o balão ainda podia ser visto com binóculos e seus sinais captados. Quatro bipes foram detectados, indicando que o sistema que batia as fotos já havia feito quatro delas. "Foi uma maravilha. Tinha levado mais de seis meses para fazer aquele projeto. Era o máximo ver aquele negócio colorido subir e enviar sinais", conta Leite.
Mas a alegria durou pouco. Os sinais começaram a variar em intensidade e os dois colegas situados em bairros diferentes já não conseguiam mais captá-los. "Durante mais uns 15 minutos ainda consegui captar os sinais, já que ver o balão era impossível. Depois o radio silenciou e toda operação que tínhamos em mente para recuperar a câmera não foi posta em prática. Perdemos tudo!", lembra.
Além da câmera, o balão levava uma plaqueta informando "Esta máquina pertence a Rogério Leite. Se alguém encontrá-la, favor ligar para xxxxxxxx e será gratificado". "Espero até hoje por esta ligação!", brinca.