Para chegar a essa conclusão Lefèvre e François Forget desenvolveram um novo modelo climático para Marte, que ajuda a compreender o comportamento do gás na atmosfera do planeta. O resultado do estudo foi publicado essa semana na revista científica Nature e segundo seus autores reproduz fielmente as condições atmosféricas do planeta.
O gás foi detectado pela primeira vez em 2003 através do telescópio infravermelho ITF (Infrared Telescope Facility) da Nasa e do telescópio W.M. Keck, ambos localizados na ilha de Mauna Kea, no Havaí A assinatura típica do gás foi obtida com o uso de espectrômetros acoplados ao instrumento que mostraram a existência de três linhas espectrais de absorção e que juntas confirmaram a presença de metano.
No entanto, o resultado apresentados pelo novo modelo francês mostrou que a química do metano, como entendida atualmente, não explica a distribuição do gás como proposta pelos cientistas americanos.
Tanto na Terra como em Marte, o metano apresenta uma vida muito curta, uma vez que é destruído pela radiação solar em pouco tempo e é exatamente por esse motivo que é usado como indicador de vida, já que sua presença sugere que algum mecanismo biológico ou geológico, está repondo a quantidade destruída. No entanto, o modelo de Lefèvre mostra que uma vez presente na atmosfera o metano está sumindo muito mais rápido do que o estimado: ao invés de desaparecer em 300 anos está sumindo em apenas 200 dias.
O estudo de Lefèvre mostra que se a destruição do metano não estiver acontecendo na atmosfera e sim na superfície, a situação é ainda pior, já que a perda do gás passaria a ocorrer em poucas horas ao invés de centenas de dias. Neste caso algum processo altamente hostil à presença de matéria orgânica estaria ocorrendo na superfície.
Questionado se essa rápida deterioração do gás não poderia ser um sinal de vida, causado por algum microorganismo "comedor" de metano, Lefèvre disse: "Pode ser que sim e pode ser que não. Existem alguns tipos recém descobertos de microorganismos que fazem isso aqui na Terra - os metanotrofos - mas pouco se sabe sobre eles".
Quando em operação, a Exomars deverá perfurar até dois metros abaixo da superfície e será a maior profundidade já escavada por explorador robótico no planeta e revelar se algum material orgânico foi ali preservado ali, mas segundo Lefèvre, condições mais adequadas para a vida podem existir muito mais abaixo disso.