O motor principal, construído em parceria com a empresa Alliant Techsystems, está em seu estágio inicial de desenvolvimento e ainda não pode ir ao espaço, mas os testes mostraram que a tecnologia baseada em metano pode ser a resposta para explorações do espaço profundo.
O metano, de fórmula CH4, é o principal componente do gás natural e muito abundante em alguns planetas e satélites do Sistema Solar. Ele pode ser obtido em Marte, Titan, Júpiter e muitos outros planetas e luas. Com tantos "postos de combustível" no espaço, um foguete que deixasse a Terra não precisaria levar tanto combustível no momento da partida, reduzindo muito o gasto da missão.
De forma surpreendente, este gás inflamável nunca alimentou nenhuma espaçonave. No entanto, cientistas e engenheiros ligados aos centros espaciais Marshall e Johnson, da Nasa, apostam suas fichas no desenvolvimento de um motor baseado em LOX (oxigênio liquido) e Metano, como alternativa para o futuro. Segundo a diretora do projeto, a cientista Terri Tramel, do Marshall Space Flight Center, diversos esforços estão sendo feitos e diversas companhias estão colaborando.
O hidrogênio líquido usado pelos ônibus espaciais precisa ser armazenado a uma temperatura de 259 graus negativos, somente 20 graus acima do zero absoluto. Essa é uma temperatura difícil de ser trabalhada. O metano líquido, por outro lado, pode ser armazenado a uma temperatura muito mais elevada e cômoda, da ordem de -161.6 graus. Isso significa que os tanques de metano não precisam de grandes camadas de isolamento térmico, fazendo-os mais leves e mais baratos de serem lançados. Os tanques também podem ser menores, já que o metano líquido é mais denso que o hidrogênio líquido, novamente tornando-os mais barato.
O metano também soma pontos quando o quesito é a segurança humana. Enquanto muitos foguetes utilizam combustíveis altamente tóxicos, como a hidrazina, o metano é o que os cientistas chamam de combustível verde. "Os técnicos não vão precisar mais colocar aqueles trajes especiais, que os isolam do ambiente, para manipular o combustível. O metano é limpo", completa a pesquisadora.
Apesar de Marte não ser rico em metano, ele pode ser facilmente fabricado através de um método conhecido como "Processo de Sabatier", onde uma mistura de dióxido de carbono e hidrogênio é aquecida até produzir água e metano. A atmosfera marciana é uma fonte abundante de gás carbônico, e a quantidade relativamente baixa de hidrogênio requerido no processo pode ser levada da Terra ou extraída no próprio local a partir do gelo marciano.
Viajando mais distante, o metano se torna mais fácil ainda de ser obtido. Em Titan, uma das luas de Saturno, literalmente chove metano líquido. O satélite é dotado de lagos e rios de metano e outros hidrocarbonetos que um dia poderão servir de depósitos de combustível. As atmosferas de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno contêm metano. Plutão provavelmente também mantém o material líquido em sua superfície.
De acordo com Tramel, uma das maiores questões está relacionada à habilidade de incandescer o metano. De fato, alguns foguetes de combustível líquido entram em ignição espontânea assim que o combustível entra em contado com o oxigênio, mas o metano querer uma fonte externa de ignição, que pode ser muito difícil de ser conseguida no espaço profundo, onde as temperaturas chegam a centenas de graus abaixo de zero. Tramel e seus colegas atualmente trabalham para assegurar que o foguete pode de fato "dar partida" em condições críticas, com total segurança e confiabilidade.
Mesmo com diversos desafios, a cientista acredita que os foguetes baseados em lox-metano serão usados no futuro. A chama azulada no deserto foi o primeiro passo.