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Seca na Amazônia pode ter sido causada por aquecimento global

Quinta-feira, 6 mar 2008 - 10h51
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Uma das maiores secas que já atingiram a Região Amazônica, no ano de 2005, pode não ter sido provocada pelo fenômeno climático El Niño como se supunha até agora, mas pelas altas temperaturas verificadas no oceano Atlântico tropical Norte. A conclusão é do cientista José Marengo, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, e que foi destaque na “Philosophical Transactions”, periódico científico da Royal Society, uma das mais respeitadas instituições científicas do mundo.

A pesquisa sugere que o aquecimento global já está de fato afetando a maior floresta tropical do planeta, com resultados compatíveis com as previsões feitas pelos ambientalistas.

Em 2005, a Amazônia experimentou a pior seca de sua história. Na ocasião, diversos rios secaram isolando comunidades inteiras, que viram suas atividades econômicas praticamente cessar. Milhares de quilômetros quadrados de mata arderam por meses, liberando na atmosfera uma quantidade aproximada de 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Alguns leitos de rios lembravam as cenas do seco sertão nordestino

Naquele ano, os climatologistas já haviam observado uma aparente correlação entre a temperatura da água do oceano Atlântico e a menor precipitação de chuvas na Amazônia, mas somente agora essas observações foram confirmadas. O trabalho de Marengo e de seus colegas do INPE e do Instituto de Aeronáutica e Espaço, IEA, mostram que a seca de 2005 não estava ligada ao El Nino, mas ao aquecimento das águas do Atlântico tropical Norte. Este aquecimento tem sido identificado pelos cientistas do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA, NCAR, como parte da tendência de aquecimento global, que foi de 0.7 ºC nos últimos 50 anos naquela região do Atlântico.

De acordo com o cientista Carlos Nobre, também ligado ao INPE e considerado uma das maiores autoridades sobre aquecimento global, naquele ano o El Niño praticamente não afetou o Pacífico Tropical. Além disso, o El Niño raramente afeta o sudoeste da Amazônia, que foi a região mais atingida. “A idéia de ocorrência de seca durante episódios de El Niño não é sempre correta", diz Nobre. "Durante o El Niño a estiagem ocorre mais sobre a região central e oriental da Amazônia, como foi o caso das secas de 1926, 1983 e 1998. A seca de 2005 foi igual à de 1964, e que não esteve relacionada ao El Niño”.

A conclusão é significante, já que modelos climáticos gerados em supercomputadores prevêem a continuidade do aquecimento do oceano devido ao aumento das emissões dos gases que provocam o efeito estufa. “Em 2005, a temperatura no Atlântico Tropical Norte foi das mais quentes registradas e a análise meteorológica mostra que isso gerou um sistema de baixa pressão sobre aquela região oceânica. Essa baixa pressão mudou o vento ao longo dos trópicos, resultando na queda da nebulosidade e consequentemente das chuvas”, explica Marengo.


Savanas Ralas


Os modelos climáticos para a Amazônia projetam aumentos significantivos de temperatura e forte declínio de umidade até o ano de 2100, principalmente devido às concentrações crescentes de dióxido de carbono na atmosfera. Os modelos também levam em consideração a taxa de desflorestamento.

O aquecimento global e a perda constante das florestas tropicais não são fenômenos naturais. São fatos reais provocados pelo Homem. Combinados e sem controle, poderão transformar em pouco tempo a principal floresta do planeta, rica em biodiversidade, em savanas ralas e com poucas árvores.

Artes: No topo, gráfico mostra a disponibilidade de água no solo da região amazônica em diversos anos, incluindo ano da seca de 2005. Acima, foto mostra o lago próximo à cidade amazônica de Manaquiri, transformado em um raso córrego, por onde somente pequenas canoas conseguiam trafegar. Crédito: WHRC - Woods Hole Research Center e Greenpeace.

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