Quarta-feira, 11 ago 2021 - 09h41
Por Rogério Leite
Em 23 de maio de 1967, radares de vigilância dos EUA, localizados nos extremos do norte do planeta repentinamente travaram sem explicação alguma. Era época da Guerra Fria e esses radares eram peças chaves na detecção de mísseis nucleares soviéticos e um travamento poderia significar um ataque nuclear às instalações e deveria ser imediatamente rechaçado.
Imagem feita em maio de 1967 mostra a quantidade de filamentos e regiões ativas na superfície do Sol, responsáveis por uma série de emissões de alta energia que bloqueou os radares antimísseis dos EUA em três regiões do planeta. Ao confirmarem o travamento dos radares, os comandantes estadunidenses emitiram alerta máximo e autorizaram que dezenas de aeronaves transportando armas nucleares levantassem voo. O contra-ataque parecia iminente, mas felizmente o motivo do travamento dos radares emperrados fora descoberto a tempo. Naquele dia, os primeiros meteorologistas do clima espacial surgiram para salvar o dia e alertaram que o possível travamento era consequência de uma das mais poderosas explosões solares já registradas, cuja energia simplesmente cegou os radares militares. O alerta dos pesquisadores evitou o que poderia ter se tornado o início de uma guerra nuclear.
Uma das pesquisadoras que alertou os militares era Delores Knipp, ligada à Universidade do Colorado e também ao Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR). Em 2016, Knipp e seus colegas pesquisadores assinaram um artigo intitulado "Como uma explosão solar quase desencadeou uma guerra mundial", trazendo à luz detalhes desse evento emblemático ocorrido em 1967.
Vistos em imagens modernas nos comprimentos de onda dos raios-x e ultravioletas, essas regiões ativas se parecem com pontos muito brilhantes na superfície do Sol. Esses pontos e as explosões que geram podem ser consideradas comuns, especialmente quando o Sol se aproxima do período de máxima atividade.
Na ocasião, a radioastronomia era uma disciplina nova e, antes dessa época, os estudos do sol e de suas labaredas tendiam a ser relativamente poucos e espalhados por todo o globo. Por sorte, em 1967, diversos observatórios solares espalhados pelo mundo já compartilhavam atualizações diárias com os meteorologistas do Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD). Em maio de 1967, um grande grupo de manchas solares se formou em uma área da superfície do sol e baseados em conhecimento adquirido, os meteorologistas espaciais previram que uma grande explosão solar estava prestes a acontecer. E, de fato, aconteceu. Em Massachusetts, o radiotelescópio solar passou a detectar níveis sem precedentes de radiação eletromagnética vinda do Sol, enquanto ondas de rádio do mesmo comprimento de onda e intensidade também eram observadas pelos observatórios no Novo México e Colorado. À medida que os efeitos do poderoso flare solar se propagavam sobre a Terra, os radares do Sistema de Alerta Antecipado de Mísseis Balísticos, localizados no Alasca, Thule, na Groenlândia e Fylingdales, no Reino Unido, também sentiram o efeito e pararam de funcionar. Radar balístico localizado em Thule, Groenlândia, foi um dos primeiros equipamentos bloqueados pela explosão solar de maio de 1967.
Segundo Knipp observou em seu artigo, as informações críticas foram repassadas aos mais altos escalões do governo e possivelmente chegou até mesmo ao então presidente Lyndon B. Johnson.
Relatos informam que auroras boreais foram vistas até nas latitudes médias ao sul de Cuba e Havaí. Nas Montanhas Rochosas, no oeste da América do Norte, as auroras eram tão brilhantes que acordavam os camponeses antes da hora, que pensavam estar amanhecendo. As melhores estimativas mostram que o Evento Carrington foi 50% mais intenso que a supertempestade de maio de 1921.
O estudo mostra que quase nada estaria imune à esse tipo de tempestade, nem mesmo a água das residências. Saiba mais clicando aqui Estudo: Poderosa tempestade solar pode gerar caos nos EUA LEIA MAIS NOTÍCIAS
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