Quarta-feira, 1 fev 2006 - 06h58
Em março o Brasil marcará sua presença no espaço, enviando à estação orbital o primeiro astronauta brasileiro, mas outra contagem é feita entre alguns cientistas: a de quanto tempo mais demorará para que o País tenha autonomia no setor espacial, principalmente no desenvolvimento de satélites.
Na segunda-feira, o diretor do INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, engenheiro Gilberto Câmara, afirmou que o País precisa de fato de um "programa espacial do tamanho do Brasil",e que seja motivado por resultados. "Não é só uma questão de colocar astronauta, cosmonauta ou taikonauta no espaço." A declaração de Câmara foi dada em São Paulo, enquanto apresentava aos membros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) seu projeto de gestão - com foco justamente no desenvolvimento de satélites. Em seu discurso, o presidente do INPE afirmou que "não vamos ser os atores principais no exterior lançando homens ao espaço ou participando na ISS (Estação Espacial Internacional), nem em viagens a Marte". De acordo com Câmara, o investimento no setor espacial tem de dar retorno e ser mensurado, para que a sociedade veja o retorno do que ela investiu.
A viagem do astronauta Marcos Pontes, marcada para março, custará ao contribuinte brasileiroaproximadamente 15 milhões de dólares, pagos à Roskosmos, a agência russa. Segundo especilaistas, esse valor é suficiente para desenvolver um sistema de controle de órbita dos satélite. Essa tecnologia é fundamenteal para que o satélite seja orientado na posição desejada e apontar as câmeras corretamente. No seguimento espacial quem tem o conhecimento não o divide. Os chineses, que fornecem o sistema de controle de órbita no projeto sino-brasileiro CBERS, não ensinam para os técnicos daqui. O mesmo fazem os russos, que vêem o Brasil como um potencial cliente e até deram desconto nos US$ 20 milhões normalmente cobrados por viagens como a que Pontes fará. "O Brasil não está a serviço do programa espacial, como um exemplo do que pode ser no futuro, mas o programa deve estar a serviço do Brasil", afirmou Câmara. Segundo o diretor do Inpe, tanto a Nasa quanto a ESA, (agência espacial européia), já demonstraram interesse em comprar as imagens do CBERS, uma vez que o satélite Landsat está a ponto de ser aposentado. A SBPC também não concorda com o investimento alto, neste momento, em missões que envolvam astronautas e a ISS. "Em 1986, já havíamos detectado que o sistema de direcionamento de satélites é uma questão estratégica. Hoje pegamos carona na tecnologia de outros", disse o presidente da sociedade, o físico Ennio Candotti. Segundo Candotti, os US$ 10 milhões investidos na viagem espacial de Pontes seriam suficientes para que o País obtivesse total autonomia nesta tecnologia. Recursos humanos não seriam um problema, uma vez que há cientistas brasileiros qualificados para a tarefa. "A missão do astronauta, apesar de meritória, é como servir uma sobremesa antes de ter o prato principal pronto", afirma. Por sua vez, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Sergio Gaudenzi, afirmou que o dinheiro chegará a seu tempo. O orçamento pedido para este ano, de US$ 200 milhões, seria o início do investimento em tecnologias de base, como sistemas inerciais pedidos por Câmara e Candotti. No enatanto o valor ainda não foi aprovado e precisa ser dividido entre três setores espaciais: satélites, foguetes e bases de lançamento. "Se US$ 170 milhões forem aprovados, estaremos em um patamar bom para que se possa remontar um programa que ficou parado nos últimos anos", diz ele. Enquanto o dinheiro não vem, isso Gaudenzi sugere que os técnicos brasileiros captem o que puderem dos colegas chineses durante a montagem dos próximos satélites sino-brasileiros. "Se você me perguntar "como fazer?", eu digo que precisamos trabalhar com eles para aprender. Os brasileiros têm de ser espertos, observar, pegar o que eles sabem."
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