Sexta-feira, 29 abr 2016 - 09h20
Por Rogério Leite
Em razão do aumento constante da concentração de gases de efeito estufa e de alterações significativas na ocupação do uso do solo, o Brasil deve chegar ao final do século com temperaturas muito mais elevadas que as atuais e intensificação sistemática dos eventos climáticos de larga escala.
Imagem de satélite Terra, da Nasa, mostra o furacão Catarina momentos antes de atingir os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em março de 2004. Crédito: NASA/MODIS. A afirmação faz parte do RAN1, o primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, trabalho assinado por 345 cientistas brasileiros que atuam em diversas áreas ligadas ao tema. De acordo com o relatório, as projeções indicam que se o nível das emissões de CO2 e outros gases do efeito estufa continuarem no ritmo atual, até o final do século a temperatura média de todas as regiões ficará entre 3º e 6ºC mais elevada que em 2001. A Amazônia e a caatinga experimentarão 40% a menos de chuvas, enquanto na região dos pampas o nível de precipitação poderá ser 30% maior que o atual.
No entender do climatologista José Marengo, Chefe de Divisão de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, CEMADEN, os estudos mostram um aumento de temperatura em toda a América do Sul com exceção do Chile, onde a costa sul e região central apresentam resfriamento há algumas décadas. "A sensação é de que as estações estão meio loucas, com manifestações mais frequentes de extremos climáticos”, disse o cientista. Com alterações extremas significativas, o país deverá conviver com períodos de chuva forte e seca prolongada, além da possibilidade de surgimento de fenômenos com grande potencial de destruição como o furacão Catarina, que em março de 2004 atingiu a costa de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Além das consequências criadas pela natureza, o estudo aponta que o crescimento das áreas concretadas e asfaltadas intensificará as ilhas de calor nas áreas metropolitanas, com consequente aumento da temperatura e mudança no regime de chuvas.
“Fizemos uma compilação crítica dos dados produzidos pelos estudos mais recentes e verificamos que em regiões como o Centro-Oeste quase não há dados disponíveis”, explica o meteorologista Tércio Ambrizzi, da Universidade de São Paulo. “Além disso, também temos pouca pesquisa sobre o paleoclima no Brasil”. Para o paleoceanógrafo Cristiano Chiessi, da USP Leste, que também trabalha no relatório, as pesquisas sobre como era o clima do passado na costa do Atlântico em torno do Brasil são extremamente raras. “Precisamos investir nesse tipo de estudo para sabermos o que é variação natural do clima e o que é decorrente da ação humana”, explicou Chiessi.
“O Brasil é hoje o único país do hemisfério Sul a contar com um modelo próprio”, disse o cientista Paulo Nobre, também ligado ao INPE e um dos coordenadores do BESM. “Isso nos dará uma grande autonomia para realizar as simulações que sejam de nosso maior interesse.” O novo modelo permite, entre coisas funcionalidades, fazer projeções sobre os efeitos no clima no Brasil provocados por mudanças no padrão da circulação oceânica do Atlântico Tropical e também nos biomas do país. A versão atual do BESM roda no supercomputador Tupã, instalado na unidade do INPE de Cachoeira Paulista e já permite simular diversos fenômenos em escala global e regional e revelar cenários futuros. Entre outros, o modelo já consegue reconstituir a ocorrência dos últimos El Niños e estimar o retorno desse fenômeno climático nos próximos anos. LEIA MAIS NOTÍCIAS
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