Quinta-feira, 6 ago 2015 - 08h39
Por José Alberto Vivas Veloso
Gerações futuras deverão continuar relembrando o 6 de agosto de 1945, data indelével na história da humanidade. Naquela manhã explodiu sobre Hiroshima a primeira bomba atômica. Três dias depois outro artefato explodiu sobre Nagasaki, praticamente dando fim à guerra que se desenrolava no Pacífico. Cerca de 200 mil pessoas morreram em consequência daquelas ações.
Clique para ampliar Uma arma tão poderosa nas mãos dos Estados Unidos, logo despertou o interesse de outras nações. Passados quatro anos (29/08/1949), a antiga União Soviética conseguiu a sua e, seguidamente, a Grã Bretanha (1952), a França (1960) e a China (1964). Como resultado, essas nações formaram um "restrito clube atômico" onde novos sócios não são bem vindos.
Índia e Paquistão (1998) e Coreia do Norte (2006) também obtiveram suas bombas, mas não o status político dos cinco primeiros, que são os únicos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, com poder de veto sobre qualquer resolução que venha a ser proposta pelo conselho, que também possui membros não permanentes, escolhidos na forma de rodízio. Clique para ampliar
Acidentes e a elevada contaminação atmosférica levaram os dois principais protagonistas da corrida nuclear, (Estados Unidos e União Soviética), a assinarem, em 1962, um tratado banindo qualquer tipo de explosão na atmosfera e nos oceanos. Como a corrida não iria parar a solução foi realizar testes subterrâneos.
Um programa dessa época bem sucedido foi o norte-americano denominado WWSSN (Worldwide Standard Seismic Network), um conjunto de aproximadamente 120 estações sismográficas padronizadas espalhadas por vários países, fora da influência soviética. Sob o aspecto científico ele foi notável, pois melhorou a capacidade de detecção global dos terremotos. Basta lembrar que o simples aperfeiçoamento na determinação epicentral e focal dos sismos mundiais ajudou a firmar a teoria da tectônica de placas. Clique para ampliar Nessa época também surgiram os arranjos sismográficos que, diferente do sistema tradicional de uma única estação sismográfica, distribuía certo número de sismômetros em uma grande área do terreno. Apoiado em processamento computacional, o arranjo funcionava à semelhança de uma antena de radar, aprimorando não apenas a detecção dos sinais, como também calculando a direção de onde eles vinham e com que velocidades as ondas cruzavam os sensores, instalados no chão.
Antes, porém, patrocinado pelo governo Britânico e com apoio do CNPq e da UnB, foi instalado na área do Parque Nacional de Brasília um arranjo sismográfico de alta sensibilidade, constituído originalmente por 18 elementos. Tanto a estação de Natal, com a de Brasília foram as sementes das quais nasceram os centros sismológicos locais. Brasília voltou a receber um outro sistema moderno em 1993, cujo objetivo primário também era registrar explosões nucleares. Hoje existe uma organização ligada à ONU, denominada CTBTO (Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization) com o objetivo de fazer cumprir um tratado internacional que bane por completo, qualquer tipo de explosão nuclear. Para verificar o cumprimento do tratado foi montada uma rede mundial com mais de 300 estações, usando quatro tecnologias diferentes para vigiar os continentes (sísmica), os oceanos (hidroacústica) e a atmosfera (infrassom e radionuclideos). Signatário do tratado, o Brasil abriga cinco daquelas estações, sendo 3 delas sísmicas, o que une, de certa maneira, a sismologia ao tema nuclear.
Nunca houve confirmação oficial, mas tudo indica que em décadas passadas o Brasil procurou construir armas nucleares e aparentemente foi longe nesse intento - projeto dessa natureza inclui programas de testes. Em agosto de 1986, a mídia divulgou que na área da base aérea de Cachimbo, Pará, existiriam instalações subterrâneas especiais, como um poço revestido de concreto, com cerca de 300m de profundidade e um metro e meio de diâmetro. Em 18 de setembro de 1990, o então presidente Fernando Collor foi ao local e fechou simbolicamente a perfuração, jogando uma pá de cal em seu interior, fato transmitido à noite pelas televisões brasileiras.
Clique para ampliar Apesar do mérito do projeto, fui informado de que a perfuração não poderia continuar existindo, pois pesaria sobre o nosso País a desconfiança de que aquela facilidade poderia, a qualquer momento, ser utilizado para fins militares. Assim, a pá de cal lançada no “buraco do cachimbo”, também sepultou um possível grande projeto sismológico brasileiro. Acima, registro de explosão nuclear francesa ocorrida em 1/10/1995, às 20h 42min 37s (Hora de Brasília), detectada pela Universidade de Brasília (UnB), a cerca de 9500 km de distância. Notar que a onda P domina o sismograma, uma característica típica das explosões nucleares, embora nem sempre seja um critério decisivo para discrimina-las dos terremotos. LEIA MAIS NOTÍCIAS
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