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Quarta-feira, 22 ago 2007 - 10h25

Inpe usa satélites brasileiros para monitorar vôo do gavião-real

Pela primeira vez no Brasil, os vôos de um Gavião-real, também conhecido como Harpia ou Uiraçu (Harpia harpyja), serão acompanhados por meio de satélites. A tecnologia implantada combina o esforço de três instituições nacionais - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) -, com financiamento da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, para inaugurar a utilização do sistema de satélites brasileiros no monitoramento de animais silvestres.

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Em Parintins (AM), no Assentamento do INCRA Vila Amazônia, um filhote de quatro meses foi o primeiro a receber um radiotransmissor equipado com GPS para rastreamento da sua movimentação. “O filhote marcado ainda não voa e permanece no ninho que está localizado a quase 32 metros de altura em uma castanheira”, conta o Dr. José Eduardo Mantovani, do INPE, ecólogo e especialista em monitoramento de animais, que no Projeto é o responsável pelo recebimento das informações enviadas pelos satélites para o mapeamento dos vôos dos gaviões, gerando informações sobre a movimentação no entorno do ninho e distância de dispersão desta espécie até sua fase adulta.

O filhote será monitorado pelos próximos três anos, através de um receptor GPS que acumula os dados do seu posicionamento para transmissão através do Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA), que conta com os satélites das séries SCD e CBERS. O SCD-1 e o SCD-2 são satélites de coleta de dados brasileiros, enquanto os satélites CBERS são resultado de uma parceria do Brasil com a China. O sistema é operado pelo INPE.

O monitoramento via satélite faz parte do Projeto para a Conservação do Gavião-real, coordenado pela Dra. Tânia Sanaiotti, do INPA, que acompanha ninhos na região há mais de seis anos e trabalha com as comunidades rurais na tentativa de estabelecer uma convivência pacífica entre os assentados e a maior ave de rapina das Américas. O Projeto desenvolve atividades de educação ambiental junto aos comunitários e introduz novos conceitos de comportamento frente à espécie, acrescentando alternativas no uso da terra, trabalho resultado de uma parceria com os pesquisadores especialistas em sistemas agroflorestais Dra. Elisa Vandelli e Dr. Silas de Souza, da EMBRAPA-AM.

Os resultados positivos na região são evidentes: desde o início do Projeto, aumentaram de 2 para 12 o número de ninhos conhecidos desta ave, tornando Parintins o município com maior número de ninhos mapeados na Amazônia.

A captura

O ninho foi encontrado pelo proprietário do lote, Sr. Sebastião Pereira, da Comunidade Santo Antônio do Murituba, do Assentamento Vila Amazônia, que acompanhou de perto com seus filhos toda a operação de captura do filhote.

Os dispositivos de marcação foram implantados por Benjamim da Luz, do IBAMA-RR, especialista em estrutura das árvores utilizadas por gavião e experiente escalador em dossel, que subiu até o ninho para capturar o filhote. Em sua dissertação de mestrado pelo INPA, Benjamim caracterizou os locais de reprodução e as árvores selecionadas na Amazônia brasileira, incluindo a região do Assentamento Vila Amazônia.

“Após a retirada de um ninho de vespas da árvore, a captura do filhote foi bem-sucedida. Era uma fêmea com 1,83m de envergadura e 4,4kg de peso. Este filhote recebeu 4 marcações”, diz o pesquisador do INPE. Uma anilha do CEMAVE, nº Z 1005, permite que a localização possa ser anunciada ao IBAMA. É uma anilha do próprio Projeto, bem larga para identificação à distância. Também foi colocado um “microchip” subcutâneo, que permitirá a identificação do animal com leitora automática, e um radiotransmissor no dorso. Os trabalhos da equipe no campo foram acompanhados por bolsistas do projeto e moradores do assentamento.

Um segundo radiotransmissor financiado pela Fundação O Boticário está previsto para ser colocado em um filhote no bioma Cerrado ou no Pantanal. E um terceiro radiotransmissor, financiado pela Veracel Celulose S/A, será utilizado na área da RPPN Veracel, no sul da Bahia, um importante remanescente da Mata Atlântica naquele estado.

Pesquisa

Através do Programa Jovem Cientista Amazônia, o Projeto conta com 6 bolsistas, alunos de nível fundamental e professores das escolas do Assentamento. Estes bolsistas se envolvem em várias atividades, como feiras, exposições e palestras relacionadas ao uso da terra, sob coordenação de pesquisadores da EMBRAPA. Os bolsistas também realizam atividades de campo, como o monitoramento dos 12 ninhos existentes na região e a coleta de restos de presas (como ossos, dentes, pêlos e penas) atiradas do ninho pelas aves adultas. Como resultado deste trabalho, a ecóloga e especialista em dieta de Gavião-real, MSc. Helena Aguiar, descobriu que na região a espécie é especialista na caça de preguiças, que representam cerca de 79% de sua dieta.

Os doze ninhos até agora mapeados no Assentamento pertencem a pelo menos oito casais, segundo o estudo de Aureo Banhos, do IBAMA-AM, que está realizando análises genéticas através das penas encontradas abaixo dos ninhos. Em seu doutorado pelo INPA, em genética da conservação de Gavião-real, Aureo Banhos aborda a distribuição da diversidade genética da espécie no Brasil, os impactos da degradação florestal para essa diversidade e se há diferença genética entre o gavião-real da Amazônia e da Mata Atlântica.

A pressão da exploração ilegal de madeira, do desmatamento e da caça que foram no século passado os responsáveis pelo quase desaparecimento da espécie na Mata Atlântica, são também as atuais ameaças à espécie no município de Parintins e entorno. A efetiva fiscalização pelo IBAMA local permitiu que algumas das árvores com ninhos não fossem cortadas e que os próprios comunitários se tornassem protetores desta ave de rapina. Entretanto, a cada momento surgem novos empreendimentos nas florestas da região. “Temos um árduo caminho a ser traçado na demarcação de reservas florestais, dentro e fora do Assentamento, para que a maior águia brasileira não deixe de anunciar seus caminhos pela floresta”, concluiu José Eduardo Mantovani.

Parceria

Além dos apoios institucionais do INPA, IBAMA, EMBRAPA e INPE, várias outras instituições permitem viabilizar as atividades do Projeto Gavião-real: CAPES, CNPq, FAPEAM, Fundação O Boticário, Programa BECA/IEB, Cleveland Zoological Society, Birders Exchange, Prefeitura Municipal de Parintins. Os eventos promovidos contaram com patrocínio de SEDUC, SDS e BASA.

Fonte: INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

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